A PROPOSTA REFORMA OU DEFORMA O ENSINO MÉDIO?
Análise Inicial
Integrando, enxugando e excluindo disciplinas e conteúdos;
1 - Com a proposta o Governo brasileiro foge
do problema central que é o déficit e a evasão de Professores devido à baixa
atratividade, valorização da profissão, melhorias de salários e das condições
de trabalho e das escolas públicas.
2 - Evitando investir na
valorização da carreira para atacar o déficit de professores, o Governo se
desobriga a abrir novos concursos, melhorar salários e formação continuada dos
professores, pois, diminuirá conteúdos, agrupará disciplinas, incluirá ensino
técnico abrindo assim, espaço para contratação de INSTRUTORES Técnicos, pelo
sistema “freelancer” (sem vínculo empregatício), no lugar de PROFESSORES com
formação pedagógica e de licenciaturas, com vínculo empregatício e pedagógicos
com alunos, pais, escola e educação. - É A TRANSFORMAÇÃO DA EDUCAÇÃO EM
NEGÓCIO, PASSANDO-A DE UM DIREITO, PARA
UM SERVIÇO OU PRODUTO.
3 – Agrupando as disciplinas em áreas o
governo cria a figura do professor generalista em Humanas, Da Natureza etc...
Assim, diminui a necessidade de contratação de professores para as disciplinas
específicas, diversifica e aumenta o conteúdo a ser trabalhado pelo mesmo
professor, comprometendo a profundidade e abrangência dos conteúdos para o
aluno, o que prejudicará a qualidade da educação básica. É A EDUCAÇÃO
SUPERFICIAL OU SIMBÓLICA para a classe pobre.
4 – A Educação enxuta atingirá
massivamente os jovens das classes menos favorecidas (86%) atendidos pela
escola pública. Como a escola particular possui recursos econômicos, materiais
e atende a uma minoria de posses, poderá ofertar um estudo mais aprofundado e
de qualidade para o seus alunos, assim estará institucionalizada a distinção de
classe na educação. Uma educação superficial e técnica para os filhos dos
pobres e uma educação aprofundada e abrangente para os filhos dos ricos. - É A
EDUCAÇÃO DOS POBRES E A EDUCAÇÃO DOS RICOS.
5 – Contratação de Professor “Freelances”
ou com notório saber (sem formação em licenciatura ou pedagogia). Estas medidas
estão atreladas a mudança na lei trabalhista que aumentará a carga horária de
trabalho, priorizando o negociado sobre o legislado, o que possibilitará mais
horas de trabalho para o professor, tendo em vista escola de tempo integral, e,
a contratação sem concursos de profissionais técnicos para dar aulas no sistema
de horas ou produtividade. - “Professor Freelancer”. - É A TRANSFORMAÇÃO DO
PROFESSOR EM PRESTADOR DE SERVIÇO.
6 - Com o sistema de trabalho “freelancer”, o
governo visa abrir espaço para contratar professores estrangeiros (autônomos)
ou alguém com "notório saber" para suprir o déficit de professores
sem investir na profissão e, precarizar direitos trabalhistas e de organização
sindical. -E A TRANSFORMAÇÃO DA DOCÊNCIA EM "BICO".
7 - Português, Matemática e
Inglês - com a obrigatoriedade apenas destes três conteúdos o governo sinaliza
sua verdadeira intenção. A pergunta é: porque a obrigatoriedade somente destes
três conteúdos? Simples! O mercado exige, necessita que a mão de obra (jovem e
barata) tenha no mínimo o domínio básico da leitura e da escrita para que o
jovem empregado seja capaz de ao menos, ler os manuais.
Quanto a Matemática, que o jovem
trabalhador seja capaz de exercitar no mínimo, as quatro operações, ler um
gráfico, uma planilha simples nas máquinas e computadores da automação das
fábricas. Por exemplo: um assistente de mecânico de automóveis hoje, precisa
ler e calcular os dados do computador que faz a varredura do motor dos novos
automóveis que são 70% comandados por componetes eletrônicos.
Por fim, a língua Inglesa,
exigência do mercado globalizado, já que os componentes são importados com seus
manuais muitas vezes em inglês. Tudo isso significa que o ensino e aprendizado
destas disciplinas deixa de ser por uma finalidade de desenvolvimento crítico,
cognitivo, linguístico e de domínio dos signos culturais da linguagem para
operar sócio e culturalmente em sociedade. Deixa de ser um meio de compreensão
lógica das relações e proporções, da percepção e investigação lógico-matemática
na solução de problemas e construção de alternativas de vida, (Matemática) e
passam, (Português, Inglês e Matemática) a figurarem com o pobre objetivo
instrumental de simples ferramenta para operações mercadológicas. É O FIM DA
NATUREZA EPISTEMOLÓGICA MESMA, DESSAS DISCIPLINAS, AINDA QUE NEGUEM.
8 - Artes e Educação Física. - A
desobrigatoriedade destas duas disciplinas é mais um sinal da verdadeira
intenção do governo com a tal reforma. Ora! Claramente não percebe o Governo ou
maldosamente não quer perceber que; o ensino das Artes é uma necessidade
fundamental à formação da humanidade do homem. Somos seres racionais, mas também
somos seres de paixões de sensibilidade perante o outro, manifestada pelo
sentimento de solidariedade, empatia, altruísmo. Somos seres de sensibilidade e
percepção do mundo e da natureza, sensibilidade manifestada pela contemplação
do belo, enchimento do espírito e da alma com este sentimento de esplendor
perante a imensidão e o mistério do mundo natural, estes elementos estão em nós
e precisam ser descobertos e desenvolvidos, principalmente na adolescência, é o
desenvolvimento da estética: a razão e consciência da sensibilidade humana,
aquilo que nos aproxima do humano e nos distancia da barbárie e da violência. É
este o papel e a atribuição do ensino de ARTES. - É A DESNATURALIZAÇÃO DO
HUMANO PELA TECNIFICAÇÃO DO OPERÁRIO.
A Educação Física, não se limita
ao exercício físico e dos músculos, também não é só prática esportiva, é isso
também, e só por isso já seria fundamental sua obrigatoriedade, mas, há um
elemento essencial: a Educação Física guarda em sua essência a necessidade da
descoberta do corpo como guardião, casa, lugar, morada do nosso ser, elemento
material que abriga quem somos e nos interage com o mundo material, é onde
habita a dignidade humana. É este o ensinamento silencioso que a Educação
física imprime na formação de nossos jovens. O perceber-se como ser social,
político, estético, moral e ético a partir da percepção do corpo. NO MÍNIMO É O
ABANDONO DOS VALORES E PRÁXIS DE SOCIALIZAÇÃO E CONVIVÊNCIAS APRENDIDAS PELO
ESPORTE.
9 – Quanto a Filosofia e
Sociologia: desde 2000, participo de estudos com grupos de professores e alunos
em todo o Brasil, de várias Universidades
sobre o papel, o valor, a necessidade e importância da Filosofia e
Sociologia para a formação crítica, ética, política, humana, integral dos
nossos jovens, até conseguirmos em 2008 aprovar a inclusão obrigatória destes
conteúdos no Ensino Médio, pelo Decreto Presidencial nº 11.684, de 2 de junho
de 2008. Há vários textos, artigos, estudos e teses sobre este assunto,
comprovando que toda vez que há um governo antidemocrático, autoritário as
primeiras disciplinas a serem cortadas do ensino são justamente a Filosofia e a
Sociologia. Por tudo que já foi publicado e que está disponível na internet me
abdico de fazer aqui a defesa e análise do obvio.
10 - O ESTADOS DEFINEM PARTE DO
CURRÍCULO: ao permitir que os Estados definam grande parte do seus currículos,
o Governo quebra a homogenidade, a hegemonia do ensino nacional, criando o
ensino por Estado. O aluno de uma região poderá não aprender o mesmo que alunos
de outras regiões. Estados mais ricos poderão ofertar conteúdos que outros ,
por economia, não ofertarão. Professores que mudarem de Estado poderão não
encontrar trabalho em outros Estados que não ofertem sua disciplina, o mesmo poderá ocorrer com os alunos ,
Universidades poderão ou deverão ofertar seus cursos e vestibulares conforme as
disciplinas ofertadas pelo Estado a que pertençam não atendendo interessados de
outras localidades que não tem determinadas disciplinas. É A LIVRE CONCORRÊNCIA
DO ENSINO/APRENDIZADO DA EDUCAÇÃO BÁSICA ENTRE OS ESTADOS.
Por fim, está claro que ao
enxugar, excluir ou integrar os conteúdos para que sobre espaço e tempo ao
ensino técnico de “qualificação rápida” para o mercado, estará ao mesmo tempo
eliminando a abrangência e profundidade do ensino destes mesmos conteúdos,
criando assim, a Educação superficial para os alunos da Escola Pública
responsável por 86% das matriculas dos jovens brasileiros, a maioria da classe
pobre, enquanto na Escola Particular, com toda infraestrutura física e de materiais,
os 8 ou 10% dos jovens das classes mais ricas, receberão a Verdadeira Educação,
ampla, com profundidade e crítica. Pergunto: qual destes grupos de alunos terá
mais chances de ingressar em uma universidade de Medicina, Advocacia,
Engenharia para ficar com os mais citados? Estabelece-se com este plano a
divisão de classes na educação. A educação dos Ricos e a dos pobres.
O neoliberalismo não opera apenas
pelas mãos invisíveis do mercado, opera também com os olhos cegos e os
tentáculos famintos de um Leviatã. Não enxerga, por exemplo; que o Ensino Médio
é o momento áureo da formação do caráter, da personalidade, dos valores, da
visão de mundo, da sensibilidade, da corporeidade, dos Ser significante... O
Ensino Médio tem a função primeira de formar o adolescente-operário, mas sim,
de formar a consciência do eu, da pessoa, do cidadão e do Sujeito.
São estes os aspectos que o
Ensino Médio trabalha, ainda que precariamente, por motivos de falta de
infraestrutura e valorização dos profissionais da Educação, por parte dos
governos, o que não justifica reduzir toda essa formação, às vezes não vistas
pela cegueira do mercado e governantes neoliberais, por uma “formação técnica
diminuta” para fins mercadológicos.
Por Prof. Westerley Santos
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