terça-feira, 12 de maio de 2015







A FILOSOFIA COMO BUSCA DE SENTIDO E O DIFÍCIL PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE FILOSOFIA
Maria Dulce Reis
Doutora em Filosofia (FAFICH/UFMG)
Professora de Filosofia (ICH/PUCMINAS)
RESUMO
O presente texto discorre sobre questões provenientes do que chamamos hoje de campo da Metafísica, mas que nasceram junto ao próprio surgimento da atividade filosófica na Grécia antiga “o que é a Filosofia?”, “o que é o homem?”, “algo se esconde ‘por trás’ do logos? Interesses, conflitos, dificuldades?”, “o que é e ‘haveria como’ ensinar Filosofia?”. Discutiremos brevemente sobre: a filosofia como busca de sentido, a Filosofia como sintoma e remédio, o ensino-aprendizagem de Filosofia, algumas de suas dificuldades e algumas sugestões metodológicas.

3 – O Ensino-aprendizagem de Filosofia e alguns impasses

 A que espécie de educadores deve ser entregue o aprimoramento da alma de nossos jovens? Este questionamento Socrático (Platão- Apologia 20ª-d) deveria nortear toda pretensão de ensino-aprendizagem de Filosofia, ou seja, a consciência das limitações da sabedoria humana e interrogação das condições psíquicas necessárias a um pretenso mestre – que, ao mesmo tempo, conhece e ignora, que pode apenas colocar-se como amigo da sabedoria, em constante busca de saber sobre si mesmo e sobre o mundo.

 O processo de ensino-aprendizagem de Filosofia está sempre ligado à pergunta antropológica: o que é o homem? Aprender é um processo. Um processo “teimoso” porque tem suas regras próprias não acontece como o professor quer e sim conforme as possibilidades e o investimento de cada um em particular, professor e alunos. O investimento do professor costuma ser o de incentivar, mostrar o já sabido, propor, tirar dúvidas, combater enganos, experimentar e formular métodos, criar soluções. Já as possibilidades do professor ser bem sucedido em sua proposta, elas dependem de formação intelectual e afetiva, ou seja, conhecimento e capacidade de saber lhe dar com possíveis limitações, também intelectuais e afetivas, não só dos alunos, como, também, de si próprio.

 Quanto ao investimento e as possibilidades dos alunos, elas são variáveis, pois há aqueles que desejam aprender e apresentam dificuldades e há aqueles que não estão em sala de aula para aprender e, sim, desejam outras coisas. Dificuldades “internas” podem manifestar-se, como a baixa auto-estima (achar que não é capaz de entender, de aprender), a inibição (o medo de errar, a vergonha de não saber) ou mesmo a falta de humildade (achar que não precisa daquele conhecimento, ainda que ele lhe esteja sendo oferecido). Não é o caso do professor fazer papel devido aos pais ou a um psicólogo, mas ele pode problematizar, estimular, e “fazer o seu convite” (no nosso caso, um convite à Filosofia). Assim, quanto mais saudáveis as condições intelectuais e afetivas do professor, maiores as possibilidades de boa resolução de tais impasses.

 Quanto aos alunos que “desejam outras coisas”, o professor pode e deve incentivá-los, mas não deve ser culpado por um possível fracasso: não há textos, filmes, métodos avançados de ensino capazes de ensinar a quem não quer se envolver no processo de formação e aprendizagem. Sem dúvida, tais alunos tem o direito de “desejar outras coisas” , mas sabemos que frequentemente  responsabilizam o outro (professor, o colega, a família..) pelos seus fracassos desconsiderando que o aprendizado é o resultado de uma mistura de esforço e prazer: o sacrifício de investir tempo, energia, diálogo, o prazer de descobrir, de conhecer coisas novas, de “mudar de idéia, de reconhecer que não sabia e que agora já sabe

um pouco mais”. Alguns alunos ainda não conseguem diferenciar o que é bom e o que é ruim para si próprios, precisam amadurecer para reconhecerem que, como diz Platão, há prazeres que são enganosos, que não fazem o homem crescer e, sim, o diminuem, empobrece a sua própria alma. Frequentemente, até o último momento o professor espera que este aluno se “descubra”, acredita que ele possa não dar ouvidos a manifestações infantis.

Este texto é parte do resumo do texto original: Ver texto na íntegra no endereço abaixo: