sábado, 12 de novembro de 2011

QUE SOCIEDADE QUEREMOS FORMAR?


    


COMO BEM FUNDAMENTOU Hanna Arendt, (1906-1975) em “A Condição Humana”, o capitalismo criou uma sociedade operária. Não sendo mais suficiente para atender as exigências modernas, percebeu que esta sociedade de semianalfabetos, com pouca escolaridade, tornou-se um entrave aos interesses deste mesmo capitalismo, hoje de especulação financeira, de base tecnológica de produção e de concorrência mundial. Senão vejamos: para que um pais como o Brasil entre com força na voraz competição capitalista mundial, ele precisa de uma boa infraestrutura material (estradas, portos, transportes etc.). Um bom sistema tributário que desonere a produção e o comércio, e uma legislação que iniba os gastos com mão de obra (salários diretos e indiretos, assistência previdenciária, etc.) isso associado a uma imprensa comprometida com os interesses deste capitalismo, sindicatos desmobilizados e fechando, junte a isso, um povo pouco instruído, informado e alienado, para evitar assim, contestações  e mobilizações contra o sistema.

Mas, paradoxalmente, é emergencial ao capitalismo moderno brasileiro, que a mão de obra operária se qualifique tecnicamente um pouco mais, para atender as novas exigências de concorrência global. E para isso, o empresariado brasileiro quer que o operariado saia do nível de semianalfabeto e passe para o nível de analfabeto funcional ou de escolarização.

Ocorre que o poder de alfabetizar as massas, está nas mãos das escolas e professores, sobre todas as públicas, que atendem a mais de 86% dos jovens e, no processo de alfabetização poderá se dar o processo de conscientização contra-ideológica-capitalista dos pretendidos operários tecnificados para atender as novas necessidades globais de mão de obra.  Então o que fazer? Emergencialmente o empresariado através do chamado sistema “S” (SENAI, SENAC, SESC etc.) montou ele próprio “escolas” formadoras de mão de obra barata, com base em ensino técnico-funcional, uma espécie de capacitação emergencial para atender seus interesses imediatos de formação técnica de mão de obra.

Em seguida, passou a interferir nos governos mais diretamente, com “parcerias” de gestão empresarial para escolas do governo, (cursos de gestão empresarial à Diretores, etc.), em alguns casos patrocinam com este fim, atividades nas próprias escolas, como a Rede Globo faz com o tal “amigo da escola”, e outros até liberam verbas, como alguns bancos, e em troca, exigem que os governos (financiados por eles) e escolas se comprometam com a melhoria no ensino exclusivamente em  Português e Matemática.  Por que exclusivamente em Matemática e Português?

Aqui, é preciso uma atenção maior! Por que, Português e Matemática e não em todas as áreas como Geografia, História, Química, Filosofia, Sociologia? Acaso a educação se resume somente a essas duas disciplinas? Acaso o aluno não precisa da História para formar um senso crítico, social, político e transformar inclusive as condições histórico-dialética da sua condição política e de cidadania? Como formar um cidadão sem concepção histórica? Como formar um cidadão, com consciência ecológica, ambiental e conhecedor de sua nação e de suas mazelas, sem a Geografia? Como formar um cidadão que valoriza a vida, as espécies, a natureza, o planeta, sem a Química e a Biologia? Como formar o ser Humano íntegro, sociável, capaz de pensar criticamente, refletir, avaliar, julgar, identificar e se defender das ideologias que o alienam e o escravizam? Como alcançar a autonomia intelectual de sujeito livre para decidir e escolher com critério ético e correto para si e a humanidade sem a Filosofia e a Sociologia? Então, por que governantes e empresários querem financiar exclusivamente o ensino em Português e Matemática e não o desenvolvimento Educacional na sua totalidade?

Ora! não interessa ao capitalismo formar seres pensantes, cidadãos ou sujeitos críticos, conhecedores de seus deveres e direitos. Primeiro o capitalismo Brasileiro-moderno entende ser capaz de controlar a aplicação destes dois saberes: (Português e Matemática) no dito mercado de trabalho, conduzindo sua aplicação para os fins determinados por ele.


Segundo, porque para o capitalismo – do tipo brasileiro, basta que o jovem operário saiba melhor redigir um memorando ou ler e compreender as instruções técnicas dos manuais e apostilas para operar as novas máquinas e, calcular o troco no balcão.


Um operário, jovem, acrítico, sem leitura social, política e de seus direitos, mas, com competência para entender um pequeno parágrafo técnico e fazer as quatro operações básicas é o suficiente e adequado aos interesses de massificação e doutrinação que o capitalismo moderno precisa.

Resta a nós professores comprometidos com nossa causa e honestos com o princípio da Educação verdadeira nos perguntarmos: como devemos agir diante deste novo ataque à educação? Que tipo de sociedade queremos ajudar a formar?

Digo que a consciência é a descoberta de si mesmo, condição para a descoberta de todo o resto.

P.S. Veja o que disse o comentarista da mesma Rede Globo o Sr. Carlos Sardemberg, com todas as letras no Jornal da Globo cinco dias após a elaboração deste texto, no dia 27/05/21010.  Disse ele: Educação básica brasileira deveria formar nossos jovens em Português para ler manuais e em Matemática para saber operar máquinas”. Não satisfeito, continuou o ataque dizendo que: “a gente tá formando pessoas que não são necessárias ao desenvolvimentodo país.” D
ação
TEMA: Política, Capitalismo, Educação.
 Westerley Santos
Prof. Filósofo
22/05/10.

Bibliografia citada: ARENDT, Hanna. A Condição Humana. Tradução de Roberto Raposo-9ª Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária,1999.